Saudações aos viajantes, aqui quem fala é o argonauta do século XXI. Ao contrário dos meus companheiros gregos eu não sou um desbravador de oceanos ainda. Nesse blog eu vou navegar no espaço virtual e trazer os assuntos mais interessantes que encontrar; junto com essas "especiarias" vamos discutir temas da atualidade e ainda vou deixar um lugarzinho para publicar meus textos literários. Espero que curtam e visitem sempre.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O que acabei de ler






Os últimos livros que lí são bem diferentes entre si, mas eu sou eclético e leio (quase) tudo. O primeiro que terminei foi "Entrevista com o vampiro" da Anne Rice. Esse livro inspirou o filme homônimo e deu grande reconhecimento a autora americana. Bom eu ví o filme antes de ler o livro e ele foi uma das razões pra eu querer lê-lo. Eu fiquei meio decepcionado pq gostei mais da versão Hollywoodiana da obra da Anne exceto na construção das personagens porque ela fez um ótimo trabalho nessa parte. A narração é quase toda em primeira pessoa porque a história trata de um vampiro que dá uma entrevista a um garoto contando toda a sua vida e revelando vários segredos do mundo dos vampiros. A criação desse mundo pela imaginação da autora e admirável; toda a criatividade e minunciosidade empregada impressionam apesar do pouco que é revelado acerca desse assunto nesse que foi o livro de estréia de Rice. O personagem principal, Louis, é enfadonho em algumas partes do livro ele se questiona a todo tempo, se castiga e está sempre a procura de algo. Ele não consegue aceitar sua condição de vampiro e ao mesmo tempo não consegue abandoná-la e a trama gira basicamente em torno de suas introspecções psicológicas ao longo da vida. A personagem que mais me chamou atenção foi Cláudia uma menina que acaba sendo transformada em vampira e passa a viver com Louis e com a frustração de ser imortal no corpo "inútil" de uma criança. Lestat, o vampiro que transforma Louis no começo da história, também merece ser citado por sua importância no livro, mas ele não foi um personagem que me atraiu; pra mim faltou profundidade e um melhor desenvolvimento dele. Apesar de tudo eu recomendo o livro sim e pricipalmente o filme, pra quem gosta desse tema de vampiros eles são ótimos e a autora é uma das principais do meio.





O segundo que terminei foi "Amy Winehouse biografia" do Chas Newkey-Burden. Eu não gostei muito porque o autor fez mais um pout-pourri de críticas, relatos de testemunhas, e outros tipos de textos relacionados a Amy, então sua vida não foi o foco (como eu esperava numa biografia) e sim a sua carreira que ocupa a maior parte do livro. Muitas das coisas que foram ditas eu já sabia por acompanhar o trabalho da artista então o livro me acrescentou pouco a respeito de Amy. Pra quem não conhece essa cantora (você esteve em coma?) polêmica e muito talentosa e quer conhecer pode até comprar o livro porque está baratinho, mas eu não recomendo. Com certeza serão lançadas outras biografias dela no futuro e espero que outras sejam melhores.





O último livro que lí recentemente foi "Mar morto" do meu autor preferido, Jorge Amado. Obviamente eu achei o livro ótimo. Muito bom e muito triste também. Ele conta a história de Guma e Lívia, mas mais que isso conta uma história de luta e vida de pescadores de Salvador e do mar. O mar que inspira a tantos em várias épocas, mas nenhum como Jorge. Guma é o personagem principal e é um pescador prodígio que foi criado pelo tio, sua vida corre normalmente como qualquer outro pescador da região, até que durante uma festa no cais ele vê Lívia e se apaixona e não descansa enquanto não a conquista. O livro, junto com outro do Jorge que eu já citei aqui ("A descoberta da América pelos turcos") inspiraram a novela "Porto dos milagres" que eu também fui fã, antes mesmo de conhecer a obra de Jorge Amado. Bom eu sou um mero bloggeiro para resumir uma obra tão incrível como essa, mas o fato é que o livro é realmente muito bom e quem ler não vai se arrepender principalmente pelo final.

domingo, 28 de dezembro de 2008

O medo e o instinto (crônica)

Esse texto é bem velho e eu gosto bastante dele, esse fato aconteceu mesmo comigo e me inspirou a escrever essa crônica espero que vocês gostem.





Verão no Rio de Janeiro, clima tropical clássico nessa época (uma das razões por eu amar minha cidade). Caminhava no centro pelo famoso Saara. Para os cariocas não é necessária mais nenhuma explicação, mas os outros podem imaginar muvuca, tumulto, calor intenso enfim. Só indo lá para saber de verdade.

Andava pelas ruas procurando tecidos e entrei numa loja. Pedi ao vendedor um metro de um tal tecido preto e ele logo se mostrou eficiente. O vendedor? Lugar comum desses atendentes, nada que chamasse atenção, meia idade, apresentável, aparentemente sem ambições maiores na vida, desses que vivem o dia-a-dia numa rotina de sobrevivência. Ele estende o pano em uma bancada e eu fico do lado oposto aguardando. Rapidamente mediu um metro e puxou uma tesoura de cabo preto sem atrativos. Não a notaria se não fosse o que se passou a seguir: A tesoura foi posicionada na marca exata de um metro e, logo depois de um corte inicial, começou a avançar ligeira e afiadíssima sobre a imensidão negra em direção a onde eu estava. Não sei o que na cena perturbou-me, mas fui incapaz de conter um impulso de me afastar num susto embaraçoso.

O episódio me fez pensar conforme caminhava no comércio fervilhante. Porque essa reação tão abrupta diante do "falso" perigo? Fora o instinto ou o medo o causador dela? O que naquele objeto me pareceu tão ameaçador?

Muitas vezes nos vemos em situações de risco como essa. A tesoura avança rápido demais e quando percebemos já nos esquivamos do obstáculo sem avaliar se ele pode ser vencido. Com isso podemos deixar para trás prêmios que estavam ao alcance. É verdade que impedir o instinto de fugir é difícil, afinal ele mantêm nossa integridade e soberania há muito tempo, mas às vezes vale a pena superar a própria natureza em prol de uma conquista valorosa.

Diante de um fato como esse existem dois momentos bem claros no mecanismo que ativa as repostas do organismo. O medo que é o gatilho que inicia o processo de reação e, logo depois, o instinto que nos diz exatamente o que fazer dando continuidade ao processo e provocando a reação física em si. Não há como discordar que esse é um método de autopreservação eficaz. No entanto, ele não deve nos impedir de desfrutar a vida sem se preocupar com as tesouras, facas e lâminas em geral que podem estar no caminho.



sábado, 27 de dezembro de 2008

O enigma da esfinge


Finalmente alguém aderiu ao projeto de transformar um fato da vida em um texto aqui no blog, esse é a respeito de uma grande amiga minha que pediu isso pra mim. Espero que ela goste e espero que vocês gostem também, eu caprichei muito e demorei muito pra terminar também rs.
Quem se interessar ou quiser saber mais é só me mandar um e-mail ou ler o texto aí do lado.


Ela abriu os olhos e notou a mão dele afagando seu cabelo. Continuaram os dois deitados, só os dedos dele moviam-se entre os fios louros e sedosos dela; tudo mais estava imóvel, o tempo estava suspenso, aguardando, e os olhos se encontravam e se invadiam. Ele sorriu, ela olhou.
_Acho que nós devíamos terminar. Ela disse com a voz minguada.
O sorriso desmancha, os dedos param e dessa vez tudo fica suspenso, aguardando.
_Por que? Ele pergunta.
_Porque você não quer o que eu quero.
_O que?
_Eu quero um relancionamento.
_Mas o que é isso?
_Eu não sei, mas não é o que eu quero.
_Eu não quero ficar sem você.
_Mas você também não quer ficar comigo.
_Mas eu não estou com você?
Silêncio.
_Eu não posso continuar assim, estou envolvida demais pra ficar e de menos pra um namoro.
_Por que não podemos ficar como estamos?
_Eu acabei de dizer o porquê.
_Namoro é só uma palavra.
_Então por que você resiste? Se não significa nada?
Silêncio. E mais silêncio. Tempo suspenso mais uma vez.
Ela virou o corpo e encarou o teto, iluminado pelo sol matutino, para não ter que encará-lo. Ele pegou a mão dela num movimento que sugeria que ela o olhasse. Depois de um tempo assim, um tempo que poderia ter sido segundos ou minutos, ela virou o rosto para ele de novo. Ele disse:
_Você promete que nós não vamos nos separar?
Silêncio.
_Me prometa.
_Eu não posso.
_Por que?
_Porque você não quer me dar o que eu preciso.
_Mas nós estamos juntos, estamos curtindo. Eu gosto de você.
_Mas não o suficiente.
_O compromisso não significa nada.
_Por que você me ofende assim?
_Como assim?
_Eu não sou uma criança. Não diga que não significa nada quando eu sei o real motivo para você não querer isso!
Silêncio. Olhos marejados. Só um par deles.
Ela vira o corpo de frente para ele e ambos se encaram, olhos nos olhos. Ambos tentam se decifrar, se entender, se sintonizar. Ambos fracassam.
_Você sabe que não podemos continuar. Não assim.
_Por que?
Ela sorri como se lembrasse de um momento bom e diz:
_Porque você ainda pergunta o porquê...
Ela se levanta da cama e sai pela porta do quarto confiante. Ele fica, suspenso como o tempo.