Saudações aos viajantes, aqui quem fala é o argonauta do século XXI. Ao contrário dos meus companheiros gregos eu não sou um desbravador de oceanos ainda. Nesse blog eu vou navegar no espaço virtual e trazer os assuntos mais interessantes que encontrar; junto com essas "especiarias" vamos discutir temas da atualidade e ainda vou deixar um lugarzinho para publicar meus textos literários. Espero que curtam e visitem sempre.

domingo, 28 de dezembro de 2008

O medo e o instinto (crônica)

Esse texto é bem velho e eu gosto bastante dele, esse fato aconteceu mesmo comigo e me inspirou a escrever essa crônica espero que vocês gostem.





Verão no Rio de Janeiro, clima tropical clássico nessa época (uma das razões por eu amar minha cidade). Caminhava no centro pelo famoso Saara. Para os cariocas não é necessária mais nenhuma explicação, mas os outros podem imaginar muvuca, tumulto, calor intenso enfim. Só indo lá para saber de verdade.

Andava pelas ruas procurando tecidos e entrei numa loja. Pedi ao vendedor um metro de um tal tecido preto e ele logo se mostrou eficiente. O vendedor? Lugar comum desses atendentes, nada que chamasse atenção, meia idade, apresentável, aparentemente sem ambições maiores na vida, desses que vivem o dia-a-dia numa rotina de sobrevivência. Ele estende o pano em uma bancada e eu fico do lado oposto aguardando. Rapidamente mediu um metro e puxou uma tesoura de cabo preto sem atrativos. Não a notaria se não fosse o que se passou a seguir: A tesoura foi posicionada na marca exata de um metro e, logo depois de um corte inicial, começou a avançar ligeira e afiadíssima sobre a imensidão negra em direção a onde eu estava. Não sei o que na cena perturbou-me, mas fui incapaz de conter um impulso de me afastar num susto embaraçoso.

O episódio me fez pensar conforme caminhava no comércio fervilhante. Porque essa reação tão abrupta diante do "falso" perigo? Fora o instinto ou o medo o causador dela? O que naquele objeto me pareceu tão ameaçador?

Muitas vezes nos vemos em situações de risco como essa. A tesoura avança rápido demais e quando percebemos já nos esquivamos do obstáculo sem avaliar se ele pode ser vencido. Com isso podemos deixar para trás prêmios que estavam ao alcance. É verdade que impedir o instinto de fugir é difícil, afinal ele mantêm nossa integridade e soberania há muito tempo, mas às vezes vale a pena superar a própria natureza em prol de uma conquista valorosa.

Diante de um fato como esse existem dois momentos bem claros no mecanismo que ativa as repostas do organismo. O medo que é o gatilho que inicia o processo de reação e, logo depois, o instinto que nos diz exatamente o que fazer dando continuidade ao processo e provocando a reação física em si. Não há como discordar que esse é um método de autopreservação eficaz. No entanto, ele não deve nos impedir de desfrutar a vida sem se preocupar com as tesouras, facas e lâminas em geral que podem estar no caminho.



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