Saudações aos viajantes, aqui quem fala é o argonauta do século XXI. Ao contrário dos meus companheiros gregos eu não sou um desbravador de oceanos ainda. Nesse blog eu vou navegar no espaço virtual e trazer os assuntos mais interessantes que encontrar; junto com essas "especiarias" vamos discutir temas da atualidade e ainda vou deixar um lugarzinho para publicar meus textos literários. Espero que curtam e visitem sempre.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O gato (conto)

Esse é um dos meus primeiros textos e o que eu mais demorei a completar foram mais ou menos três anos entre a idéia e a última finalização, espero que gostem.



Ela inspirou profundamente a procura daquele cheiro, aquele aroma tão exótico, e ainda assim tão familiar, que exalava o corpo dele... Ao expirar recordou-se daqueles olhos... Felinos!? Quase alienígenas a esse mundo. Olhavam para ela, sempre de uma forma penetrante, todas as noites. Mas não mais, não em noites recentes. Ele havia fugido, fugido de seus braços, há muitas noites atrás.

Ela preferiu não pensar nisso. Tentou lembrar-se dos bons momentos; todos que passaram juntos. Recordou-se alegre do modo como ele via o mundo; sempre observador, atento e naturalmente curioso. Fechou os olhos, e ao fazer isso rememorou imediatamente de como ele dormia. Confortável em seu sono leve, com uma respiração controlada... Barriga para cima, barriga para baixo... Em sua fantasia, seguiu com o olhar o caminho que o ar percorria dos pulmões até suas narinas e admirou sua beleza animalesca, mas ao mesmo tempo nobre. Definitivamente ele não pertencia à espécie dela. Era um indivíduo à parte. Seguia sua própria conduta. Sua ideologia singular...

No início ela o havia domesticado. Ele estava totalmente sob controle, mas não mais agora. Ele aprendeu bastante; sobre o mundo e sobre si mesmo. Por isso fugiu. Estava pronto para conquistar as ruas lá fora, no mundo alucinante. Daria tudo para saber onde ele estava agora. Por que não atendia mais quando era chamado? Será que havia encontrado um lugar melhor para viver? A espécie dele é assim. Vive onde é melhor, mais fácil, só por interesse, não importa quem deixa para trás no caminho.

Sorriu... Só para lembrar do sorriso dele... E do talhe do seu rosto: olhos, orelhas, boca... Mergulhou mais fundo ainda em sua memória para procurar aquele andar jeitoso, calmo e elegante característico dele.

Por mais que tentasse, não poderia matar a saudade em seu pensamento. Precisava vê-lo, precisava dele aninhado em se colo, tinha que cuidar dele tratá-lo, com todo o carinho que uma dona daria ao seu bichano...

De sua fantasia, afundada na velha poltrona preta, foi despertada por algo. Algo lá fora, Fora de seu mundo. Pensou ter ouvido algo, do outro lado da porta... Batida? Seria ele? Finalmente achara o caminho de volta? Ou não? O único modo de descobrir era abrindo a porta. Levantou-se entusiasmada, aproximou-se da porta com o olhar esperançoso e, ao abrir a porta, a esperança transformou-se em decepção... Havia algo lá fora. Sim... Alguma coisa de olhar felino que ansiava pelo seu carinho, mas não era ele. Não era aquele que ela esperava. Quando olhou para fora percebeu que parado na soleira estava apenas... O gato...

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