Saudações aos viajantes, aqui quem fala é o argonauta do século XXI. Ao contrário dos meus companheiros gregos eu não sou um desbravador de oceanos ainda. Nesse blog eu vou navegar no espaço virtual e trazer os assuntos mais interessantes que encontrar; junto com essas "especiarias" vamos discutir temas da atualidade e ainda vou deixar um lugarzinho para publicar meus textos literários. Espero que curtam e visitem sempre.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O ovo (conto)


Hoje foi um dia estranho, estava cochilando a tarde em meu sofá surrado de solteiro e quando acordei havia posto um ovo. Sim, um ovo! Não sei como aconteceu e nem porquê, mas quero entender o significado disso tudo. Sei que pus o ovo, disso estou certo. Parece bizarro mas posso sentir que aquele ovo é parte de mim. Aquele ovo branco e do tamanho e formato muito semelhantes aos de uma galinha. Não, não há possibilidades de alguém ter pregado uma peça em mim. Não tenho contatos com família e nem mesmo amigos íntimos, além disso moro sozinho e a casa estava trancada, além disso algo me diz que realmente pus aquele ovo.
O acontecido é óbvio e imutável; o ovo está aqui e eu o coloquei nesse mundo. Agora, o que devo fazer com ele? Isso não está claro para mim. O que o ovo quer de mim? O que eu espero do ovo? Talvez devesse choca-lo (uma parte de mim diz isso). O simples instinto paterno leva-me a cuidar, proteger e nutrir esse ovo. Deixar que ele se desenvolva, fortaleça e cresça para um dia, quem sabe, rachar e revelar seu conteúdo. O que haverá dentro dele? Por enquanto só vejo mistério, não se meche, não emite sons. Se soubesse o que há dentro tomaria a atitude mais correta.
O que devo fazer com este ovo? Devo ignorá-lo, devo fingir que o fato não aconteceu? O mais sensato seria simplesmente virar a página deste capítulo insano no livro da minha vida? Não. Mesmo que desejasse isso com todas as forças não o conseguiria. O ovo foi posto; por mim. Não se pode relevar isso. Mas então o que fazer? Afinal por que coloquei um ovo? Galinhas botam ovos, não sou uma galinha. O que sou? Que tipo de evento cósmico ocorreu para que eu acordasse como um ser ovíparo?
Isso tudo é um sonho. Estou dentro de um quadro surrealista de Di Cavalcanti. Logo acordarei, assim que esse ovo parar de me encarar. Não vai demorar muito; tão rápido quanto um piscar de olhos. Logo... Não acordo, continuo em meu sofá velho e o ovo ainda está ao meu lado e ao mesmo tempo em mim, como se fôssemos um só.
A única coisa que sei é que sou o gerador daquele ovo. Viverei com o fantasma desse episódio para sempre: o dia em que botei um ovo e o dia em que me neguei a choca-lo. Não sei o que fazer com o ovo. Frito-o e o como porque a despensa está vazia.

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